Jerusalém

[cidade]

Grande interesse naturalmente atribui a esta cidade por causa de suas histórias do Velho e do Novo Testamento, e sua glória futura. O significado do nome é um tanto incerto: alguns o atribuem como “fundamento da paz”; outros “a posse da paz”. Sua história, infelizmente, foi tudo menos de paz; mas Ageu 2:9 permanece a ser cumprido: “neste lugar darei a paz”, sem dúvida referindo-se ao significado de “Jerusalém”. O nome é registrado pela primeira vez em Josué 10:1 quando Adoni-Zedeque era seu rei, antes que Israel tivesse qualquer coisa a ver com isso, e 400 anos antes de Davi obter a posse total da cidade (2 Sm 5:6-9). Este nome pode, portanto, ter sido dado pelos cananeus, embora também fosse chamado de Jebus (Jz 19:10). Aparentemente, é simbolicamente chamada de Salém, “paz”, no Salmo 76:2136 e Ariel, “o leão de Deus”, em Isaías 29:1-2, 7; em Isaías 52:1 a “cidade santa”, como também é em Mateus 4:5 e Mateus 27:53. O templo que estava sendo construído ali, e o Monte Sião formando uma parte da cidade, tornava Jerusalém figura do lugar de bênção na Terra, como certamente será no futuro, quando Israel for restaurado.

Jerusalém foi tomada dos jebuseus e a cidade queimada (Jz 1:8); mas os jebuseus não foram todos expulsos, pois alguns foram encontrados morando em uma parte de Jerusalém chamada fortaleza, quando Davi começou a reinar sobre todas as tribos. Essa fortaleza foi tomada e Jerusalém se tornou a cidade real; mas o grande interesse que se vincula a ela surge por ser a cidade da eleição do Senhor e o lugar do templo do Senhor, onde a misericórdia se regozijava sobre o juízo. Veja: Sião e Moriá.

No reinado de Salomão, foi grandemente enriquecida e o templo construído. Na divisão do reino, era a principal cidade de Judá. Foi saqueada várias vezes e, em 588 a.C., o templo e a cidade foram destruídos pelo rei da Babilônia. Em 536 a.C., após 70 anos (a partir de 606 a.C., quando o primeiro cativeiro ocorreu, Jr 25:11-12, 29:10), Ciro fez uma declaração de que Deus o havia encarregado de construir uma casa para Ele em Jerusalém, e os cativos foram autorizados a retornar para esse propósito. Em 455 a.C., a comissão para construir a cidade foi dada a Neemias. Existiu, sob muitos reveses, até a época do Senhor, quando fazia parte do império romano. Devido à rebelião dos judeus, foi destruída pelos romanos em 70 d.C.

Suas ruínas tiveram um longo descanso, mas em 136 d.C. a cidade foi reconstruída por Adriano e chamada de Ælia Capitolina. Um templo ao Capitolino Júpiter foi erguido no local do templo. Os judeus foram proibidos, sob pena de morte, de entrar na cidade, mas no século 4 eram admitidos uma vez por ano. Constantino após sua conversão destruiu os templos pagãos da cidade. Em 614 d.C., Jerusalém foi tomada e saqueada pelos persas. Em 628 foi retomada por Heráclio. Depois disso, caiu nas mãos dos turcos. Em 1099 foi capturada pelos Cruzados, mas foi retomada por Saladino. Em 1219, foi cedida aos Cristãos, mas foi posteriormente capturada por hordas corásmias. Em 1277, foi nominalmente anexada ao reino da Sicília. Em 1517, passou sob o domínio do sultão otomano e continua a fazer parte do império turco. Já sustentou cerca de 27 cercos, e suas desolações ainda não acabaram!

A bela situação de Jerusalém é observada na Escritura; fica a cerca de 800 metros acima do mar, e as montanhas ao redor são consideradas sua segurança (Sl 125:2; Lm 2:15). Entre as montanhas e a cidade existem vales em três lados: a leste, o vale de Cedrom, ou de Josafá; a oeste, o vale de Giom; e ao sul o vale de Hinom. O Monte das Oliveiras fica a leste, de onde se tem a melhor vista de Jerusalém. No sudoeste fica o Monte da Ofensa, assim chamado porque se supõe que Salomão praticava idolatria ali. No sul está a Colina do Mau Conselho; a origem desse nome é que Caifás tinha uma vila lá, na qual um conselho foi tomado para matar o Senhor. Mas esses e muitos outros nomes comumente colocados em mapas não têm outra autoridade senão a da tradição. Ao norte, o terreno é comparativamente plano, de modo que os ataques à cidade foram feitos daquele lado.

A cidade, tal como agora está, cercada por muros, contém apenas menos de 1km². Sua face norte indo para o sudoeste se estende de ângulo a ângulo, sem notar irregularidades, cerca de 1,2km; o leste 840 metros; o sul 1km; e o oeste 640 metros; a circunferência sendo cerca 3,7km. Quem está acostumado com a área das cidades modernas fica impressionado com o pequeno tamanho de Jerusalém. Josefo diz que em sua época a circunferência de Jerusalém era de 33 estádios, o que equivale a mais de 6km. É claro que ao sul foi incluída uma porção que agora está fora da cidade. Também no norte, um muro adicional encerrava uma grande parte, agora chamada Bezetha; mas este último anexo foi feito por Herodes Agripa cerca de 10 ou 12 anos depois da época do Senhor. Vestígios desses muros adicionais foram descobertos e extensas escavações no sul estão agora (1896) determinando a verdadeira posição do muro.

Vários portões são mencionados no Velho Testamento que não podem ser rastreados; na verdade, é muito provável que não existam agora. No norte está a porta de Damasco, e uma chamada porta de Herodes está murada; no leste, uma porta aberta chamada de Santo Estêvão, e uma fechada chamada de porta dourada; na porta sul de Sião, e uma pequena porta chamado porta do Monturo; na porta oeste de Jafa. Uma rua corre quase ao norte da porta de Sião até a porta de Damasco; e uma rua da porta de Jafa segue para o leste até o recinto da mesquita. Essas duas ruas dividem a cidade em quatro bairros de tamanhos desiguais. Ao noroeste está o bairro Cristão; a nordeste o maometano; a sudoeste o armênio; e a sudeste o bairro dos judeus.

Há uma quinta porção no extremo sudeste chamada Moriá, concordando, como se supõe, com o Monte Moriá do Velho Testamento, em alguma porção na qual o templo foi provavelmente construído. Agora é chamado de “o recinto da mesquita”, porque nele estão construídas duas mesquitas. É um planalto de cerca de 0,56km², todo plano, exceto onde uma parte da rocha se projeta perto do centro, sobre a qual está construída a Mesquita de Omar. Para obter esta grande planície, paredes tiveram que ser erguidas nas laterais da rocha inclinada, formando com arcos muitas câmaras, fileira sobre fileira. Algumas câmaras são dedicadas a cisternas e outras são chamadas de estábulos de Salomão. Que cavalos foram mantidos lá em algum momento parece evidente pelos anéis encontrados presos às paredes, aos quais os cavalos foram amarrados.

Josefo fala de Jerusalém sendo construída sobre duas colinas com um vale entre elas, chamado Vale de Tiropeon. Situa-se a oeste do recinto da mesquita e corre quase ao norte e ao sul. Sobre este vale foram descobertos os restos de duas pontes: a do sul é chamada de “arco Robinson”, porque aquele viajante a descobriu. Ele julgou que algumas pedras que se projetavam da parede oeste do recinto deviam fazer parte de um grande arco. Isso foi provado por partes correspondentes do arco sendo descobertas no lado oposto do vale. Outro arco foi encontrado completo, mais ao norte, pelo Capitão Wilson, e é chamado de “arco de Wilson”. Abaixo desses arcos havia outros e aquedutos.

Quase todo o vale está cheio de escombros. Pode ter havido outro vale cruzando o topo, como alguns supõem; mas se for assim, ele também está tapado com escombros, de fato a cidade moderna parece ter sido construída sobre as ruínas das antigas, como está implícito na profecia de Jeremias 9:11 e 30:18. As pontes acima mencionadas uniriam o recinto da Mesquita, ou área do Templo, com a porção sudoeste da cidade, que supostamente incluía Sião.

Muitas das casas, embora construídas de pedra, estão dilapidadas e as ruas estreitas e sujas; a porção dos judeus é declarada a pior. Mas desde que a ferrovia foi construída de Jafa a Jerusalém, melhorias estão sendo feitas na cidade, e muitas casas estão sendo erguidas fora dos muros. Os judeus não são permitidos na área do Templo, portanto, eles se reúnem em um local próximo ao arco de Robinson, denominado Lugar dos Judeus, onde podem se aproximar das paredes da área, que são construídas com pedras muito grandes e antigas. Nas sextas-feiras e dias de festa, eles se reúnem em grande número; eles beijam as pedras e choram, e oram pela restauração de sua cidade e templo, sendo, infelizmente, ainda cegos para a única forma verdadeira de bênção por meio do Senhor Jesus a Quem eles crucificaram.

Supõe-se que os judeus tenham permissão para entrar em Jerusalém por tolerância; os Cristãos, principalmente das igrejas latinas, gregas e armênias, têm mais liberdade. Eles deram nomes às ruas e apontaram locais tradicionais de muitos eventos registrados na Escritura, mas é claro que sem a menor autoridade. Dessas identificações arbitrárias, a que parece mais improvável é a da Igreja do Santo Sepulcro, que se diz cobrir os locais onde o Senhor foi crucificado e onde foi sepultado, que fica dentro da cidade. Veja: Calvário.

Cerca de 90 metros a leste da porta de Damasco fica a entrada de uma pedreira, que se estende por um longo caminho sob a cidade, e da qual uma quantidade de pedra deve ter sido extraída. Há pilhas de pequenas lascas mostrando que as pedras foram colocadas ali; talvez as pedras “grandes e caras” para o templo construído por Salomão foram preparadas lá (1 Rs 5:17. 6:7). Há recantos escurecidos onde, aparentemente, lâmpadas foram colocadas para iluminar os trabalhadores; marcas das ferramentas são facilmente discerníveis, e alguns blocos estão lá que foram apenas parcialmente separados; tudo tem a aparência de operários que deixaram o trabalho recentemente, exceto que não há ferramentas por lá.

A cidade é mal abastecida com água, dependendo quase inteiramente de grandes tanques; mas foi relatado em 1894 que o sultão ordenou que os antigos condutores fossem consertados, que antes traziam um abundante suprimento de água de nascente dos chamados tanques de Salomão, mas que foi permitido que entrassem em decomposição. Seu nome moderno é el Kuds, “o sagrado”.

Quanto ao futuro de Jerusalém, a Escritura ensina que uma parte dos judeus retornará em incredulidade (e de fato muitos agora estão retornando), ocupará Jerusalém, reconstruirá o templo e terá uma existência política (Is 6:13, 17:10-11, 18:1-7, 66:1-3). Depois de estarem sob a proteção do futuro império romano e de terem recebido o anticristo, eles passarão por grandes tribulações. A cidade será tomada e o templo destruído (Is 10:5-6; Zc 14:1-2). Mas este não será o destino final de Jerusalém. Lemos “não se arrancarão, nem se derribarão mais” (Jr 31:38-40). “Assim diz o Senhor dos Exércitos: Ainda nas praças de Jerusalém habitarão velhos e velhas, levando cada um na mão o seu bordão, por causa da sua muita idade. E as ruas da cidade se encherão de meninos e meninas, que nelas brincarão” (Zc 8:4-5). O templo também será reconstruído, cujos detalhes são dados no profeta Ezequiel. Veja: Templo.

Os lados do espaço quadrado atribuído à futura cidade medem 5.000 côvados grandes (de provavelmente 54cm), cerca de 2,7km: a cidade própriamente deve ocupar um quadrado de 4.500 côvados em cada sentido, com os arredores de 250 côvados, com grandes subúrbios a leste e oeste. Os 4.500 côvados equivalem a cerca de 2,4km, e dão cerca de 5,9km², que, pelas dimensões dadas acima, serão vistas como sendo muito maiores do que a cidade atual (Ez 48:15-20). A formação de colinas e vales pode ser considerada uma dificuldade, mas as casas já estão sendo construídas fora dos muros, e haverá mudanças físicas no país: águas vivas fluirão da cidade, metade delas correndo para o mar ocidental e metade deles no mar oriental (compare Zc 14:8-10). A nova cidade terá doze portas, três em cada um de seus lados. “O nome da cidade desde aquele dia será o Senhor está ali” (Ez 48:30-35).

 



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N. do A: Nas Tábuas de Tell Amarna, Jerusalém ocorre várias vezes como u-ru-sa-lim, o significado provável de que é “cidade de paz”.