Escrita

[geral]

A primeira indicação de escrita na Escritura é quando Amaleque foi derrotado, e é significativo que a primeira coisa que Moisés foi instruído a escrever, quanto ao que é revelado, deveria ser com respeito ao julgamento de Amaleque, um inimigo do povo de Deus: eles deveriam se lembrar de que Amaleque deveria ser totalmente expulso de debaixo do céu (Êx 17:14). Este incidente ocorreu cerca de 2.500 anos após a criação de Adão e não podemos supor que não houvesse sido escrito antes disso. Moisés foi “instruído em toda a ciência dos egípcios” (At 2:22), e a escrita é encontrada em ou sobre todos os seus monumentos antigos.

Hales coloca a data de Menes, o primeiro rei do Egito, sendo 2.412 a.C., mas mesmo assim há mais de 1.500 anos desde a criação. Deus criou um homem inteligente e pode tê-lo instruído na arte da escrita, pois certamente também lhe deu uma linguagem pela qual Ele mesmo poderia manter um relacionamento com ele.

Deus trouxe a criação animal a Adão para que ele pudesse nomeá-los e neles Adão tinha diante de si formas muito mais numerosas do que seriam necessárias para um alfabeto, como foi adotado pelos egípcios muito tempo depois. As letras hebraicas eram originalmente simbólicas, como alguns de seus nomes indicam: como א, ר álefe, um boi; ב, beth, uma casa; ג, gimel, um camelo, etc. Para as primeiras letras egípcias derivadas da natureza, consulte a tabela abaixo.

Os astecas, que precederam os mexicanos, puderam registrar suas leis, seus rituais e um sistema completo de cronologia. Um manuscrito mexicano parece uma coleção de fotos, cada uma delas um estudo separado. Os chineses, que professam ter a arte da escrita desde tempos imemoriais, com genealogias sem fim, mantiveram seus registros em seus 80.000 caracteres simbólicos, para os quais existem 214 chaves radicais.

A história e o livro de Jó são considerados muito antigos, e ele fala não apenas de uma escrita, mas de um livro: “Quem me dera, agora, que as minhas palavras se escrevessem! Quem me dera que se gravassem num livro! E que, com pena de ferro e com chumbo, para sempre fossem esculpidas na rocha!” (Jó 19:23-24). Isso se refere a suas palavras sendo esculpidas em uma rocha e preenchidas com chumbo.

A escultura em pedras era praticada no antigo Egito, um exemplar da qual pode ser visto na Agulha de Cleópatra em Londres, às margens do Tâmisa. A gravura antiga em pedra prestou serviço nos tempos modernos, como na Pedra de Roseta, cuja escrita, sendo em egípcio e grego, deu a primeira chave para a decifração dos hieróglifos egípcios. Veja: também a Pedra Moabita.

Na península do Sinai existem muitas inscrições esculpidas nas rochas, que ainda não foram explicadas de forma satisfatória. Algumas delas foram consideradas de origem israelita quando Israel “peregrinou” por aquelas partes; outros julgam que são simplesmente saudações e nomes de viajantes; e outros são da opinião de que os peregrinos Cristãos os escreveram, enquanto alguns acreditam que sejam de uma data anterior a esta e os atribuem a peregrinações pagãs ao monte Serbal. Muitas das inscrições estão em um dialeto árabe, mas intercaladas com gravuras rudes de cavalos, asnos, cães e íbexes103.

Como já foi sugerido, os israelitas podem, em primeira instância, ter tido um sistema de hieróglifos, por meio do qual eles (como os egípcios e outros) registraram todas as coisas necessárias. Todos os alfabetos existentes foram rastreados por Gesênio até ao fenício, assim:

É geralmente afirmado que o alfabeto fenício foi derivado do hierático104 egípcio. Do fenício é traçado o hebraico antigo, daí o samaritano, e daí o hebraico quadrado moderno, como mostrado na tabela a seguir.

A conexão, entretanto, entre os alfabetos egípcio e fenício é questionada por alguns. O Dr. Poole, na Encyclopaedia Britannica, julga que se o último tivesse sido derivado do primeiro, seus nomes teriam descrito os sinais originais: enquanto Aleph significa um boi, não uma águia; Beth uma casa, não um pássaro; Gimel um camelo, não uma cesta; e assim por diante, tanto quanto se sabe, até o fim.

Pode-se notar que Deus mesmo escreveu os Dez Mandamentos nas pedras que Ele deu a Moisés, e Ele pode ter dado os antigos caracteres hebraicos. Veremos que todo o alfabeto hebraico, exceto teth, está nessas “dez palavras”.

A escrita era necessária em outras substâncias além das pedras. Quando um homem repudiava sua esposa, ele tinha que dar a ela uma “carta de divórcio” (Dt 24:1). O papiro foi usado desde cedo como papel, mas sendo muito frágil, deu lugar ao pergaminho e ao velino105, sendo escrito com junco. É nos dois últimos que quase todos os MSS antigos da Escritura foram preservados até hoje. Mas as películas eram caras e nem sempre podiam ser obtidas, o que resultou em algumas das cópias do Novo Testamento sendo apagadas, e algo de muito menos importância sendo escrito na mesma superfície, como no espécime dado aqui. Para permitir a leitura dessa escrita apagada, é necessário recorrer a meios químicos. Essas cópias são chamadas de palimpsestos106 “esfregados uma segunda vez” ou reescritos.

Isso faz parte do Codex Nitriensis, que contém grandes porções do evangelho segundo Lucas e data do século 6. As folhas originais foram dobradas ao meio e depois escritas em siríaco (por Severo de Antioquia contra Grammaticus) no século 9 ou 10. A amostra traz uma porção de Lucas 20:9-10).

Escrever é uma coisa tão intricada que nenhum povo bárbaro foi conhecido por iniciar qualquer sistema de escrita antes de ver espécimes desta arte maravilhosa. É bem sabido que certa vez um missionário escreveu em um pedaço de madeira o nome de uma ferramenta de que precisava e a entregou a um chefe, pedindo-lhe que a levasse para sua esposa. O chefe perguntou-lhe o que deveria dizer. Ele não devia dizer nada; apenas levar a madeira. Ele a levou e ficou surpreso quando a esposa do missionário jogou a lenha fora e deu-lhe a ferramenta. Estava totalmente além de sua compreensão que as marcas no pedaço de madeira pudessem transmitir uma mensagem. Era um mistério totalmente profundo; ele pendurou o pedaço de madeira em volta do pescoço, e muitas vezes podia ser visto contando a coisa maravilhosa que fizera.

No entanto, estamos tão familiarizados com a escrita que pensamos que não é nenhum mistério; ainda há complexidades ocultas nela. Nossos pensamentos devem ser expressos em palavras, nossas palavras são compostas de letras; cada uma dessas letras tem um som distinto; e cada som precisa de algum caractere para representar aquele som, que deve evocar o mesmo som, e rapidamente formar esses sons em palavras que novamente transmitem àquele que lê exatamente os mesmos pensamentos que estavam passando pela mente do escritor. Não há obra de Deus nisso?

Novamente, escrever expressa decisão e propósito. Podemos ter muitos pensamentos passando por nossas mentes em um dia, mas nenhum pode precisar ou merecer ser escrito. “Está escrito” implica uma decisão a que alguém chegou como indivíduo; ou o que foi registrado como uma Lei do Parlamento; ou muito mais alto ainda, o que Deus agradou fazer com que fosse escrito como Sua vontade revelada nos escritos sagrados, pelos quais o homem nunca será tão grato como deveria ser.

 



[103]

N. do T.: O íbex (Capra ibex) é um espécie de herbívoro que vive em estado selvagem nas regiões montanhosas dos Alpes europeus que se parecem muito com as cabras-monteses.



[104]

N. do T.: A escrita hierática era uma forma mais simplificada da escrita hieroglífica, tendo sido mais utilizada para a redação de documentos e textos sagrados. Os textos em hierático eram, geralmente, escritos em papiros.



[105]

N. do T.: Papel de superfície muito lisa e macia que imita, no aspecto, o pergaminho.



[106]

N. do T.: Manuscrito em pergaminho que, após ser raspado e polido, era novamente aproveitado para a escrita de outros textos, uma prática usual na Idade Média.