Apêndice 33. Paciência, Longanimidade, Tolerância.

É importante distinguir entre ὑπομονήhupomoné (g5281) e μακροθυμίαmakrothumia (g3115). Ambas são traduzidas como “paciência” e “longanimidade”; elas são encontradas juntas em Cl 1:11 (“perseverança e longanimidade” – ARA) e em 2 Co 6:4, 6, onde hupomoné é dada como a primeira marca do que convém aos “ministros de Deus”, pois é o primeiro sinal de poder apostólico em 2 Co 12:12. Elas estão juntas na ordem inversa em 2 Tm 3:10, na maneira de vida do apóstolo. Tg 5:11 fala da “paciência [perseverança – JND](hypomonēn) de Jó, e em Tg 5:10 fala dos profetas como um exemplo de “longanimidade” (makrothymias), “Paciência” nas versões em português.

hupomoné (que provém de ὑπομένω hupomenó g5278 “sustentar”) é uma vez traduzida “suportando com paciência” (2 Co 1:6); “paciente prosseguimento” (Rm 2:7 – JND); e isso introduz plenamente no pensamento da palavra: é uma “resistência paciente”, que não sucumbe à prova e ao sofrimento. Veja Lc 8:15, 21:19 (compare Sl 39:7, onde “que espero eu” é hupomoné na LXX – Sl 38:8); Ap 13:10, 14:12, e na expressão “aquele que perseverar até o fim” (Mt 10:22, 24:13 – a forma verbal); veja também Rm 5:3-4; Tg 1:3-4; Hb 10:36, 12:1. Em Rm 15:5 é rastreado até sua fonte divina para nós; e, embora nunca aplicado a Deus diretamente, porque não poderia haver tal teste ou pressão em relação a Ele, o Senhor Jesus no lugar que Ele tomou como Homem é nosso exemplo perfeito nisso (Hb 12:2-3 – a forma verbal), que “suportou” a cruz e a contradição dos pecadores contra Si mesmo; com o que pode ser comparado 2 Ts 3:5 e Ap 3:10.

makrothumia próvém de μακρόθυμοςmakróthymos, “longanimidade”. O que foi observado a respeito de Deus em conexão com hupomoné serve apenas para trazer à tona a distinção entre esta palavra e makrothumia, que se há um traço de graça no santo, é mais plenamente um atributo de Deus. A distinção foi colocada assim pelo Arcebispo Trench: “makrothumia será achada expressando paciência em relação às pessoas, hupomoné em relação às coisas”; e acredita-se que o seu uso na Escritura, confirma isso. Na LXX, a partir de Êx 34:6, vemos que makróthymos é constantemente usada por Deus; da mesma forma no Novo Testamento temos makrothumia em Rm 2:4, 9:22; 1 Tm 1:16; 1 Pe 3:20; 2 Pe 3:15; é o verbo μακροθυμέω makrothumeó (g3114) em 2 Pe 3:9 “é longânimo”, e “longânimo” em Lc 18:7 (AIBB). Podemos ver muito da força de makróthymos em Pv 15:18, 16:32, que na LXX corresponde a “tardio para se irar” (Tg 1:19), embora o paciente controle de espírito expresso na palavra não se limite à raiva. Para makrothumeó veja Mt 18:26, 29; Tg 5:7, 7-8, 10 (“sê paciente” (ARA) e “tem paciência” (TB); e mais geralmente 1 Cr 13:4 – “sofredor”, “paciente”, “longânimo” (TB); 1 Ts 5:14 (“sejais pacientes [longânimos – ARA]). Para makrothumia, da mesma forma, veja 2 Tm 4:2 “longanimidade [paciência – TB]; Hb 6:12 (“paciência [longanimidade – ARA]). Em Ef 4:2 e Cl 3:12-13, é seguido pela palavra ἀνέχομαιanechó (g430) “suportando uns aos outros”, o que seria a sua manifestação. Expressando então “uma longa retenção do pensamento antes que ele dê lugar à ação ou paixão”, é aplicado a Deus, em Sua paciência para com aqueles que O provocam.

ἀνοχήanoché (g463), “tolerância”, o substantivo, só é encontrado em Rm 2:4 (ARA), 3:25 (ARA); mas o verbo anechó, como vimos, ocorre em Ef 4:2; Cl 3:13, e em alguns outros lugares, geralmente traduzido como “sofrer” no sentido de “suportar”. (É um composto desta palavra com κακόςkakos (g2556) que é usado em 2 Tm 2:24 apenas – “paciente com os males e erros”). Mas como substantivo, tem um sentido um pouco mais definido, estando de acordo com o uso clássico, um armistício ou suspensão de hostilidades e, portanto, de caráter temporário. Sua adequação será então vista em Rm 3:25-26 para expressar a diferença entre o “passar por cima de” (JND) ou “deixar de lado os” (TB) pecados em na tolerância (anoché) de Deus antes da cruz, e a “justificação” do crente como o resultado da obra de justificação acabada. (Veja: paresis e aphesis).

ἐπιεικήςepieikés (g1933) (que provém de ἐπιepi (g1909) e εἴκωeikó183 (g1502) “ceder”) é outra palavra traduzida “moderado” em 1 Tm 3:3 – associada ali com ἄμαχοςamachos (g269) “não contencioso [inimigo de contendas – ARA] ou “não viciado em contendas” (JND), como em Tt 3:2, onde é “mansidão”, também Tg 3:17 “pacífica” e 1 Pe 2:18 “moderado” (TB). Em Fp 4:5 (em uma forma substantiva) é “equidade”, “moderação” (ARA), “mansidão” (TB). Veja também 2 Co 10:1 para o substantivo, “mansidão”, e At 24:4 “clemência” (ARA). É difícil de representar “equidade” por qualquer palavra, como estando em contraste com a letra estrita da lei, portanto, prontidão para renunciar a todo rigor e severidade até mesmo quanto a uma reparação legal justa (como o Bispo Ellicot a expressa); é o oposto de defender os próprios direitos, “modesto”, “moderado”. Em comparação com πρᾳότηςpraotés (g4236) (para o qual veja: Mansidão) na expressão “mansidão (prautētos) e “benignidade” (epieikeias) de Cristo” (2 Co 10:1); o primeiro seria mais o estado da mente interior, o segundo deve necessariamente se expressar em relação aos outros. epieikés é usada pela LXX em Sl 86:5 (Sl 85) em relação ao Senhor e isso corresponde ao nosso “pronto a perdoar”.



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N. do T.: A palavra εἴκωeikó aparece apena uma vez na Escritura, em Gl 2:5: ... nem ainda por uma hora, cedemos com sujeição....