Igreja
[geral]
Diz-se que essa palavra é derivada do grego κυριακός – kuriakos, que significa “pertencente ao Senhor” e é comumente usada tanto para uma associação de Cristãos professos quanto para o edifício no qual eles adoram. É o uso bíblico da palavra ἐκκλησία – ekklēsia, ou “assembleia”, que está sendo considerado aqui.
A palavra é usada em referência a Israel no Novo Testamento em uma ocasião em Atos 7:38, e a um ajuntamento de gentios em Atos 19:32, 41. Sua primeira ocorrência em relação ao Cristianismo está em Mateus 16:18, onde, após a confissão de Pedro de que Jesus era o Filho do Deus vivo, o Senhor acrescenta: “sobre esta pedra edificarei a Minha assembleia”. Historicamente, este edifício espiritual (pois “edifício” nunca se refere a um edifício material) foi iniciado após Sua morte e ressurreição, quando o Espírito Santo desceu no dia de Pentecostes. Neste aspecto da Igreja, não há espaço para qualquer falha – as “portas do inferno [Hades – TB] não prevalecerão contra ela”. É o que o próprio Cristo efetua por Seu Espírito nas almas, e contempla o resultado pleno e final. Em 1 Pedro 2:4-5 temos a obra progressiva, “vós também, como pedras vivas, sois edificados casa espiritual”. A ideia de “edificar” aqui supõe uma obra feita de tal forma que as almas se tornam conscientes de fazer parte da morada de Deus e se tornam capazes de oferecer sacrifícios espirituais como um sacerdócio santo.
Mas há um aspecto da assembleia como um edifício no qual ela é vista em relação à responsabilidade humana e onde, consequentemente, a falha humana deixou sua marca inconfundível. Em 1 Coríntios 3, o apóstolo fala de si mesmo como um “sábio arquiteto” que lançou o fundamento, que é “Jesus Cristo”; mas ele acrescenta que “outros edificam sobre ele” e avisa a todos que prestem atenção em como ele faz isso. Aqui podem ser encontrados “madeira, feno, palha”, bem como “ouro, prata, pedras preciosas”. Os homens podem “corromper o templo de Deus” (JND) e, infelizmente! isso tem sido feito com muita eficácia, sendo a Cristandade professa o resultado disso. Mas este aspecto da Igreja não deve de forma alguma ser confundido com o que Cristo constrói, onde nenhuma falha é encontrada.
Há também outra visão da Igreja ou Assembleia como o corpo e a noiva de Cristo (Ef 1:22-23, 5:26-27). Em um Espírito, os crentes são batizados em um corpo (1 Co 12:13). Eles são “feitura Sua (de Deus), criados em Cristo Jesus para as boas obras” (Ef 2:10). Existe a operação eficaz de Deus em vivificá-los com Cristo, em ressuscitá-los (judeus e gentios) juntos, e fazê-los assentar-se juntos nos lugares celestiais em Cristo. Eles, de forma viva, estão unidos à Cabeça no céu pelo Espírito de Deus. Este corpo está na Terra para que as graças da Cabeça possam ser exibidas nele. Seu povo deve se revestir, como os eleitos de Deus, santos e amados, de entranhas de misericórdia, de benignidade, humildade, mansidão, longanimidade e assim por diante (Cl 3:12-17). É o mistério oculto ao longo dos tempos, mas agora revelado, a fim de que nos principados e potestades nas regiões celestiais seja conhecida, por meio da assembleia, toda a multiforme sabedoria de Deus (Ef 3:9-10). A assembleia será finalmente apresentada por Cristo a Si mesmo como Sua noiva, sem mancha ou ruga ou qualquer coisa semelhante. Não pode haver falsos membros no corpo de Cristo, e nenhuma mancha ou ruga em Sua noiva. Os que estão unidos a Ele são “todos um” com o próprio Santificador; eles são “Seus irmãos”; eles provêm do grão de trigo que caiu na terra e morreu, e que deu muito fruto (Hb 2; Jo 12:24). Além disso, a assembleia é uma (Ef 4:4; 1 Co 12:13). Não existe outra.
Se houver divisão em todos os lados, como aconteceu em Corinto, a fé ainda reconhecerá que o corpo é um, e manterá sua verdade. Dons foram concedidos à assembleia e serão reconhecidos como tais por fé, e seu exercício é bem-vindo não importando a fraqueza em que possa ser exercido. Se a assembleia se tornou como uma grande casa, onde há vasos de ouro e prata, bem como de pau e de barro (2 Tm 2:20), o crente é encorajado a purificar-se destes últimos – os vasos de desonra – para que ele seja um vaso para a honra, santificado e adequado para o uso do Mestre, e preparado para toda boa obra. A Escritura o ensina como se comportar na casa de Deus, que é a assembleia do Deus vivo, a coluna e firmeza da verdade (1 Tm 3:15).
Deve-se observar cuidadosamente que as igrejas ou assembleias em Jerusalém, Corinto, Roma e assim por diante, não eram organizações separadas ou independentes, como na ideia moderna da Igreja de Roma, a Igreja Grega, a Igreja da Inglaterra e assim por diante. Havia apenas uma assembleia, a Igreja de Deus, embora expressa em diferentes localidades, na qual de fato havia aqueles com encargos locais, como presbíteros e diáconos, e onde também a disciplina era realizada localmente. Havia plena intercomunhão. No presente estado dividido do povo de Deus, o homem de fé terá o cuidado de reconhecer que todo verdadeiro Cristão é uma parte daquele corpo, com o qual, como foi dito, não pode haver falha; enquanto, ao mesmo tempo, ele seguirá um caminho de separação do mal; e irá seguir “a justiça, a fé, o amor e a paz com os que, com um coração puro, invocam o Senhor” (2 Tm 2:22).
A Igreja continuará na Terra até o Arrebatamento, revelado em 1 Tessalonicenses 4:15-18. Assim como havia santos na Terra antes da Igreja ser formada, também haverá santos na Terra após o Arrebatamento: todos serão igualmente salvos, mas nem todos farão parte da Igreja de Deus conforme revelado na Escritura. Isso preenche um lugar maravilhosamente único, designado por Deus para que nele os principados e potestades nos lugares celestiais aprendam agora mesmo a multiforme sabedoria de Deus; e nos séculos vindouros as abundantes riquezas da graça de Deus serão manifestadas “pela Sua benignidade para conosco em Cristo Jesus” (Ef 2:7, 3:10).