Davi
[geral]
O nome significa “bem-amado”. Davi era filho de Jessé, descendente de Boaz e Rute, um judeu e uma gentia: tanto judeus como gentios serão abençoados no Cristo de Quem Davi era figura. Davi foi ungido quando em humildade, “apascentando as ovelhas”. Seus sete irmãos passaram diante de Samuel, mas aquele a ser ungido deve ser alguém segundo o coração de Deus; alguém que cuidaria e alimentaria o povo de Deus. O espírito do Senhor Se apoderou dele a partir daquele dia. Cristo era o verdadeiro Messias, a Quem Davi prefigurou, sendo ungido em Seu batismo pelo Espírito Santo antes de entrar em Seu serviço para com Israel. O espírito de Davi foi agitado dentro dele quando ele ouviu a jactância de Golias contra o Deus de Israel, e então ele contou como em segredo ele protegeu as ovelhas e matou o leão e o urso: em nome de Deus, o gigante também seria vencido. Sua fé estava no Deus de Israel, e o gigante foi morto.
O cântico das mulheres em louvor a Davi despertou a inveja de Saul, que tinha mais preocupação com sua própria importância do que cuidar do povo do Senhor. Ele deu sua filha Mical para ser a esposa de Davi, e imaginou que isso serviria de laço para Davi; mas sua esposa tornou-se sua libertadora. Isso deu origem ao Salmo 5984. Ele tinha fé que Deus riria de seus inimigos: Deus era sua defesa e o Deus de sua misericórdia. Embora os Salmos mostrem as experiências do homem interior de Davi, não se deve esquecer que eles são proféticos, e sua linguagem costuma ser a do remanescente de Israel no futuro e, às vezes, a de Cristo. O Salmo 59 fala dos pagãos que se oporão a Cristo.
O amor de Jônatas e Davi é muito bonito, mas Jônatas não conseguiu proteger Davi do ódio de Saul, e Davi recorreu ao sacerdote, que lhe deu o pão sagrado. A graça soberana de Deus se eleva acima das ordenanças que estão relacionadas com a bênção quando essa bênção é rejeitada. O ungido de Deus foi rejeitado e os pães da proposição foram considerados comuns. Ele recebeu a espada de Golias e fugiu para os filisteus. Aparentemente, ele foi agarrado por eles (compare o título do Salmo 5685); ele clamou por misericórdia, pois o homem procurou devorá-lo. Ele disse: “Põe as minhas lágrimas no teu odre; não estão elas no teu livro?” (v.8); no entanto, ele sabia que deveria escapar, pois Deus era por ele. Ele mudou seu comportamento diante dos filisteus e assumiu ser louco: relacionado a isso está o Salmo 34, Davi bendiria o Senhor em todos os momentos: ele clamou, e o Senhor o ouviu; mas o salmo é manifestamente profético de Cristo (ver Sl 34:20 e outros). Davi escapou para a caverna de Adulão, e seus irmãos e a casa de seu pai foram a ele, também os aflitos, os endividados e os descontentes; o profeta Gade estava com ele, e logo depois Abiatar, o sacerdote. Mas o inimigo não estava inativo. Doegue, o edomita, informou a Saul como o sacerdote Aimeleque ajudara Davi, o que levou Saul a empregar até mesmo Doegue para matar a família de Aimeleque. Isso gerou o Salmo 5286: Deus destruiria o ímpio e o homem que não fizesse de Deus sua força. Deve ser lembrado que as circunstâncias pelas quais Davi passou são usadas pelo Espírito profético para desenvolver as experiências no conflito entre o bem e o mal, que culminarão na libertação e glória final.
Quando os filisteus atacaram e roubaram os israelitas, Davi consultou o Senhor e os feriu com grande matança. É maravilhoso ver como Davi pôde perguntar a Deus e receber uma resposta imediata. Até a cidade de Queila, que ele havia libertado, estava contra ele – o rei ungido de Deus para alimentá-los. Ele foi obrigado a fugir para outro lugar, mas Jônatas o encontrou em um bosque e o encorajou, garantindo a Davi que ele sabia que certamente seria rei; e lá eles fizeram um pacto juntos (compare Sl 63).
Quando Nabal repeliu os mensageiros de Davi, Abigail trouxe um presente e reafirmou o que Deus faria por Davi e apaziguou sua ira. Deus feriu Nabal, e Abigail se tornou a esposa de Davi. Agora os zifeus ou Zifim se comprometeram a ajudar Saul a capturar Davi. Isso suscitou o Salmo 5487, no qual Davi clama ardentemente para ser salvo: estranhos se levantaram contra ele; mas sua fé poderia dizer que Deus o livrou de todos os problemas. Davi deve peregrinar aqui e ali, às vezes no deserto, às vezes nas montanhas e às vezes nas cavernas (compare Sl 5788 e 14289). Ele salvou a vida de Saul duas vezes, pois ele não permitiria que seus seguidores matassem o ungido do Senhor. Ele esperaria o tempo de Deus para a libertação, mas, infelizmente, sua fé falhou e, por fim, ele disse em seu coração: “ainda algum dia perecerei pela mão de Saul” (1 Sm 27:1), e ele fugiu para os filisteus: um lugar estranho para Davi! Os filisteus se preparavam para a guerra contra Israel e, aparentemente, Davi teria se juntado a eles, mas foi impedido por alguns dos senhores dos filisteus que se opuseram a ele e foi mandado de volta. Nisto a providencial mão de Deus foi vista. Mas a punição do Senhor caiu sobre ele, pois os amalequitas haviam ferido Ziclague e levado embora sua família e a de seus seguidores. Davi se recorreu a Deus, que nunca abandonou Davi, e Ele graciosamente respondeu e disse-lhe para prosseguir. Tudo foi recuperado e Davi pôde enviar presentes do despojo a seus amigos. Saul e Jônatas foram mortos na batalha que se seguiu.
Davi subiu então com seus seguidores a Hebrom, e estando o trono vago, os homens de Judá vieram e o ungiram rei de sua tribo. Isbosete, filho de Saul, foi posteriormente escolhido rei pelas outras tribos.
Por um tempo, houve guerra contínua entre as duas casas, mas Davi foi ficando cada vez mais forte e Isbosete cada vez mais fraco. Depois de Davi ter reinado sete anos e seis meses em Hebrom, Abner se revoltou contra Isbosete, que logo foi morto por dois de seus oficiais, e Davi foi ungido rei sobre todo o Israel. Agora tudo estava mudado para Davi; mas, infelizmente, a primeira coisa registrada após tomar posse de Sião é: “E tomou Davi mais concubinas e mulheres de Jerusalém, depois que viera de Hebrom” (2 Sm 5:13).
Hirão, rei de Tiro, enviou mensageiros a Davi com madeira e trabalhadores, e uma casa foi construída para Davi. O Salmo 3090 parece ter sido redigido em sua dedicação. Foi Deus Quem tirou sua alma da sepultura, levantou-o e curou-o.
Vez após vez Davi lutou com os filisteus. Ele queimou seus ídolos e os feriu de Geba a Gezer. Ele prosseguiu para ferir Moabe; então estendeu sua fronteira até o rio Eufrates e colocou guarnições na Síria de Damasco; ele feriu 18.000 dos sírios no vale do Sal. Todos os de Edom se tornaram servos de Davi (compare o Salmo 6091, escrito depois de uma dessas vitórias, quando aparentemente foi um período difícil para eles: mas também é profético para o futuro).
O grande pensamento de Davi, quando estabelecido no reino, era encontrar um lugar de descanso para a arca, para trazer Deus ao meio de Seu povo. Ele tentou trazer a arca, mas a princípio não da maneira de Deus, e Uzá foi ferido, o que desagradou a Davi e o amedrontou; mas ele aprendeu melhor, e a arca foi carregada nos ombros dos levitas, com sacrifícios e muito regozijo. Davi, cingido com um éfode de linho, dançou diante da arca e, como ungido de Deus, abençoou o povo e lhe deu boas coisas. A natureza em Mical achou isso vergonhoso; mas Davi estava pronto para ser “mais vil” e “humilde” aos seus próprios olhos.
Davi pensou em construir uma casa para o Senhor, pois a arca estava apenas entre as cortinas; mas a mensagem de Deus por Natã era que Deus construiria uma casa para Davi: seu reino deveria ser estabelecido para sempre. O filho de Davi deve construir uma casa para Deus (compare Sl 132 e a oração de Davi em 2 Sm 7:18-29). O coração de Davi estava em ação de graças, enquanto ele se assentava diante do Senhor. Davi mostrou graça a Mefibosete, um descendente de Saul, e o trouxe à sua mesa; figura da graça que no futuro será mostrada ao remanescente que reconhece seu Messias. Sua bondade para com o rei gentio de Amom foi recusada e seus mensageiros foram insultados, o que trouxe punição aos amonitas e seus aliados.
Davi, agora em descanso ao invés de lutar nas batalhas do Senhor, comete um grande pecado em relação a Bate-Seba e Urias. Ele teve que ouvir que a espada não se apartaria de sua casa, e o mal deveria se levantar contra ele em sua própria família. Davi confessou seu pecado e foi imediatamente informado de que seu pecado havia sido traspassado; mas o governo de Deus seria cumprido, e a criança certamente morreria. Davi, sabendo quão gracioso Deus era, permaneceu prostrado enquanto a criança vivia, mas a criança morreu; e a rebelião de Absalão se seguiu (compare o Salmo 5192 para os exercícios de Davi a respeito de seu pecado).
O pecado seguiu na casa de Davi: a contaminação de Tamar, a morte de Amnom e a fuga de Absalão. No retorno de Absalão, ele procurou apoio no povo e se rebelou contra seu pai. Davi fugiu de Jerusalém e subiu o Monte das Oliveiras. Salmo 393 expõe seu coração. Ele não perdeu a confiança em Deus: o Senhor era seu escudo: ele se deitou, dormiu e acordou, porque o Senhor o sustentava. Deus estava cuidando dele, embora ele tivesse que beber o cálice da tristeza. O conselho de Aitofel foi desconsiderado e Davi foi salvo. Ele suportou as maldições de Simei, dizendo em sua piedade: “o Senhor lhe ordenou”. Davi ficou profundamente entristecido com a morte de Absalão e teve que ser convencido a se submeter ao que era apropriado. Ele voltou a Jerusalém e perdoou Simei. Seguiu-se a revolta de Seba, e Davi temeu que fosse pior do que a de Absalão; mas pela sabedoria de uma mulher, só Seba foi destruído. Ainda havia guerras com os filisteus, em uma das quais Davi quase perdeu a vida: quatro gigantes foram mortos e um cântico de ação de graças foi elevado a Deus (2 Sm 22; Sl 18).
Nas últimas palavras de Davi, ele confessou que sua casa não era como deveria ser para Deus. Ele fracassou notavelmente em punir o pecado em sua família, especialmente no caso de Amnom e Absalão; ainda assim, ele contava com o concerto eterno que Deus havia feito com ele, ordenado em todas as coisas e firme. E ele esperava aquela manhã sem nuvens. As “firmes misericórdias de Davi” alcançarão Israel por meio de Cristo ressuscitado (Is 55:3; At 13:34).
Davi foi tentado por Satanás a numerar Israel: isso foi permitido por Deus, pois Sua ira se acendeu contra Israel, embora não nos seja dito qual foi a causa disso. Mal o número foi informado a Davi, seu coração o feriu e ele confessou que havia pecado gravemente. Uma escolha de três punições foi oferecida a ele, e ele piedosamente escolheu ser tratado por Deus, pois ele sabia que Suas ternas misericórdias eram grandes, ao invés de cair nas mãos de seus inimigos. A peste irrompeu e 70.000 homens caíram, e quando o anjo estava para ferir Jerusalém, O Senhor deteve Sua mão; e Davi ergueu ali, naquele mesmo lugar, um altar e ofereceu holocaustos e ofertas pacíficas. Suplicas ao Senhor foram feitas em favor da terra e a praga foi detida.
Embora Davi não tivesse permissão para construir o templo, ele fez grandes preparativos para isso, com modelos ou planos das várias partes, que ele tinha pelo Espírito, e ele armazenou abundância de prata, ouro e outros materiais. Ele também encarregou os príncipes de ajudar Salomão na grande obra. Davi também organizou os detalhes do serviço, os sacerdotes, levitas, cantores e assim por diante. Ele estabeleceu Salomão como seu sucessor, e seu trabalho foi finalizado.
Apenas alguns salmos foram mencionados, aqueles em que as circunstâncias de Davi são mencionadas nos cabeçalhos. Os salmos que levam seu nome foram escritos por ele, mas apenas como um instrumento; pois foi pelo Espírito Santo que eles foram redigidos: e, portanto, são eminentemente proféticos. Veja: Salmos. O Salmo 72 termina assim: “Bendito seja o Senhor Deus, o Deus de Israel, que só Ele faz maravilhas. E bendito seja para sempre o Seu nome glorioso; e encha-se toda a Terra da Sua glória! Amém e amém! Findam aqui as orações de Davi, filho de Jessé”.
Davi é uma figura notável de Cristo: quando foi caçado por Saul, ele prefigurou Cristo em Sua rejeição; e quando no trono ele era uma figura de Cristo como um Homem de guerra, derrotando Seus inimigos antes de Seu reinado pacífico no Milênio, representado em Salomão. O Senhor Jesus é frequentemente chamado de Filho de Davi, mas mesmo assim é o Senhor de Davi, fato que Ele mesmo perguntou aos judeus (Lc 20:41-44). Da mesma forma, Ele é chamado de Raiz e Geração de Davi (Ap 22:16): sendo Deus assim como Homem, Ele poderia ser ambos. Ele também tem a chave de Davi (Ap 3:7; compare Is 22:22-24). Ele tem a disposição de todas as coisas para a Igreja, para o futuro reino na Terra e para as nações em geral.
[84]
N. do T.: Título do Salmo 59: “Para o músico-mor, Al-Tachete. Mictão de Davi, quando Saul lhes mandou que guardassem a sua casa para o matarem”. [85]
N. do T.: Título do Salmo 56: “Mictão de Davi para o músico-mor sobre Jonate-Elém-Recoquim, quando os filisteus o prenderam em Gate”. [86]
N. do T.: Título do Salmo 52: “Masquil de Davi para o músico-mor, quando Doegue, o edomeu, o anunciou a Saul, e lhe disse: Davi veio à casa de Abimeleque”. [87]
N. do T.: Título do Salmo 54: “Masquil de Davi para o músico-mor sobre Neginote, quando os zifeus vieram e disseram a Saul: Porventura não está escondido entre nós?” [88]
N. do T.: Título do Salmo 57: “Para o músico-mor. Al-Tachete. Mictão de Davi, quando fugia de diante de Saul na caverna”. [89]
N. do T.: Título do Salmo 142: “Masquil de Davi; oração que fez quando estava na caverna”. [90]
N. do T.: Título do Salmo 30: “Salmo de Davi: Salmo de dedicação da casa”. [91]
N. do T.: Título do Salmo 60: “Mictão de Davi, para ensino, para o músico-mor, sobre Susã-Edute, quando pelejou com os sírios da mesopotâmia, e com os sírios de Zobá, e quando Joabe, tornando, feriu no Vale do Sal a doze mil dos edomeus”. [92]
N. do T.: Título do Salmo 51: “Salmo de Davi para o músico-mor, quando o profeta Natã veio a ele, depois dele ter possuído a Bate-Seba”. [93]
N. do T.: Título do Salmo 3: “Salmo de Davi, quando fugiu de diante da face de Absalão, seu filho”. [Salmo 34]
N. do T.: Título do Salmo 34: “Salmo de Davi, quando mudou o seu semblante perante Abimeleque, e o expulsou, e ele se foi”.