Cantares de Salomão

[bíblia]

Também é chamado de “Cântico dos Cânticos, ou Os Cânticos”, embora seja um poema e não uma coleção de poemas. O primeiro versículo afirma que é de Salomão. O livro é único e foi interpretado de várias maneiras. Uma teoria favorita dos teólogos alemães e de muitos ingleses é que é literalmente uma história de amor: que Salomão procurou afastar uma humilde donzela de um pastor, com quem estava prometida; mas a quem ela permaneceu fiel. É impossível para o Cristão que crê na inspiração aceitar que um poema assim, sem qualquer ensino superior do que esta teoria, deva encontrar um lugar na Santa Escritura. Já outros consideram que representa “o puro amor e união mística e casamento de Cristo e Sua Igreja”, que será visto como sendo essa a ideia pelos títulos dos capítulos que constam na versão King James. As passagens do Novo Testamento que se referem à união de Cristo e da Igreja são mencionadas como sustentando essa interpretação.

Mas muito dano foi causado ao correto entendimento do Velho Testamento, por supor que onde quer que se fale de bênção, deve referir-se à Igreja. Deus tem abençoado e abençoará outras pessoas além da Igreja, especialmente Seu antigo povo Israel. Ele também usa termos cativantes para eles. Ele diz a Israel: “desposar-te-ei Comigo para sempre; desposar-te-ei Comigo em justiça, e em juízo, e em benignidade, e em misericórdias”. Esta declaração está associada a um dia em que ela chamará a Jeová Ishi (isto é, meu marido), e não O chamará mais de Baali – isto é, senhor (Os 2:16, 19 – ARF). Esta é, sem dúvida, a chave do Cântico de Salomão. Esta é a união falada, com a qual as palavras de afeto, que passam entre Cristo como Jeová e o remanescente de Israel que será trazido à bênção, estão de acordo. O cântico é profético, mas não toca a Cristo e à Igreja, embora, quando sua correta interpretação é vista, o Cristão pode aplicar parte de sua linguagem como sua para como o mesmo Senhor, que também Se manifestará como o Noivo da Igreja. Há, no entanto, esta importante diferença: nos Cânticos o resultado está mais em antecipação, enquanto com o Cristão há uma percepção presente do relacionamento: em outras palavras, mais do desejo do que da satisfação.

Do exposto, será visto que a noiva não é simplesmente uma pessoa, mas sim um símbolo da Jerusalém terrenal e do remanescente cujos nomes estão registrados como ligados ao fundamento de Deus, abrangendo todos os fiéis de Israel, vistos aqui como “as filhas de Jerusalém”, que representa toda a nação. Isso está de acordo com a linguagem em muitas partes: por exemplo, “Leva-me Tu, correremos após Ti. O rei me introduziu nas Suas recâmaras. Em Ti nos regozijaremos e nos alegraremos... os retos (plural) Te amam” (Ct 1:4). Além disso, é útil ver quem é que fala nas várias partes do Cântico. No que diz respeito ao noivo e à noiva, isso é apontado pelo gênero em hebraico. Parece evidente também que uma companhia, geralmente chamada de virgens, também participa do Cântico. O coração de Jerusalém agora está se voltando para Aquele que eles uma vez recusaram (compare Mt 23:37).

Cap. 1:2 – Noiva e Virgens. Elas valorizam o amor do noivo mais do que o vinho. A noiva reconhece que é morena, mas é agradável: os raios da aflição a queimaram como o Sol (compare Is 3:24). Ela tem guardado as vinhas das nações, não as suas próprias.

Cap. 1:8 – Noivo. Ele se deleita nela e a considera a mais formosa entre as mulheres.

Cap. 1:12 – Noiva. O noivo é “o rei”: seu nardo exala perfume: (compare Jo 12:1-8).

Cap. 1:15 – Noivo. Ele reconhece a formosura dela (compare Ez 16:14).

Cap. 1:16 – Noiva. Ela admira seu senhor e aprecia seu relacionamento: ela diz, “nossa casa” (v. 17).

Cap. 2:1 – Noiva. Ela é uma rosa de Sharon e um lírio dos vales (JND).

Cap. 2:2 – Noivo. Sua amada é como um lírio entre os espinhos.

Cap. 2:3 – Noiva. Ela o chama de “meu amado” e conjura as filhas de Jerusalém de não incomodar seu amado até que ele queira. “Eis que ele vem” (v. 8 – TB): ela ainda não o possui.

Cap. 2:10 – Noivo. Ele a convida a comer os frutos agradáveis. Devem ser apanhadas as raposas que estragam os frutos tenros. O gozo deve ser completo.

Cap. 2:16 – Noiva. Ela está consciente do relacionamento. Ele é dela e ela é dele.

Cap. 3:1 – Noiva. Ela está sozinha e em trevas; ela busca seu amado, mas não o encontra. Ela questiona os guardas e, assim que passa por eles, ela o encontra. O rei Salomão é descrito, sua liteira (cama), seu palanquim (sua carruagem) e assim por diante; é ele quem trará paz.

Cap. 4:1 – Noivo. Ele declara o que ela é à sua vista. Ela é o jardim de suas delícias. Ele invoca os ventos do norte e do sul para que a fragrância se derrame. Alguns acreditam que cap. 4:6 é a fala da noiva.

Cap. 4:16 – Noiva. Ela responde: “Ah! Se viesse o meu amado para o seu jardim, e comesse os seus frutos excelentes!”

Cap. 5:1 – Noivo. Ele entrou em seu jardim e provou suas delícias: ele chama seus amigos para compartilhar suas alegrias (compare Jo 3:29).

Cap. 5:2 – Noiva. Ela dormiu e ele está lá fora.

Cap. 5:2 – Noivo. Ele pede para entrar: seus cabelos estão molhados com as gotas da noite.

Cap. 5:3 – Noiva. Ela está preguiçosa e dá desculpas. Quando ela abre a porta, descobre que ele se foi. Ela anda pela cidade em busca dele, e é ferida e envergonhada. Ela conjura as filhas de Jerusalém a que, se o encontrarem, digam a ele que ela está “enferma de amor”. Elas perguntam a ela o que seu amado é mais do que qualquer outro amado. Ela declara que ele é “o mais distinguido entre dez mil” (v. 10 – ARA); “Sim, ele é totalmente desejável”.

Cap. 6:1 – A noiva é questionada sobre onde ele foi: elas irão procurá-lo com ela.

Cap. 6:2 – Noiva. Ela diz que ele foi para o seu jardim. Ela declara sua confiança de que ela é de seu amado e de que seu amado é seu.

Cap. 6:4 – Noivo. Ele a descreve como formosa e imaculada: ela excede a todas; ela é a única de sua mãe.

Quando Israel for trazido à bênção dessa forma, ela será, como dizem as virgens no versículo 10, “formidável como um exército com bandeiras”.

Cap. 6:11 – Noivo. Ele vai procurar os frutos e, antes que perceba, é carregado sobre as carruagens de Ammi-nadibe, “meu povo disposto” (JND) (compare Sl 110:3).

Em Cantares de Salomão 6:13, a noiva é chamada a retornar sob o nome de Sulamita, “pacífica” (o feminino de Shalom, do qual também é Salomão); e na sulamita eles veem, por assim dizer, a companhia de dois exércitos, sem dúvida aludindo à união em um dia futuro de Judá e Israel.

Cap. 7:1 – Noivo. Ele agora descreve sua amada como o que ela é para ele.

Cap. 7:9. “E a tua boca como o melhor vinho” ... Noiva (se interpondo). ... que escoa suavemente para o meu amado, E faz que se movam os lábios dos que dormem” (TB) (Novo Testamento).

Cap. 7:10 – Noiva. A experiência da noiva avançou: ela responde: “Eu sou do meu amado, e ele me tem afeição”. Ela o convida a surgir entre os frutos excelentes – o prazer mútuo.

Cap. 8:1 – Esta é uma recapitulação de todo o livro. A noiva fala como se estivesse apenas com saudades dele.

Cap. 8:5 – As virgens perguntam quem é essa que sobe do deserto encostada em seu amado?

Cap. 8:5 – Noivo. Ele a despertou sob a macieira (de que o noivo é chamado em Cantares 2:3). O remanescente será restaurado sob Cristo sob o novo concerto.

Cap. 8:6 – Noiva. Ela pede para ser colocada como um selo em seu coração e em seu braço: seu amor e seu poder serão por ela.

Cap. 8:8. As virgens falam de sua “irmã pequena”: o que deve ser feito por ela? Esta é, sem dúvida, uma alusão às dez tribos, que não tiveram a ver com Cristo quando na Terra, e que serão tratadas de forma diferente das duas tribos; mas serão trazidas para a terra e ali abençoadas.

Cap. 8:9 – Noiva. Se a irmã pequena for um muro, ela será edificada; se for uma porta, ela será envolvida; mas a noiva é um muro e atingiu a maturidade. Ela tem uma vinha própria, mas Salomão terá uma vinha, da qual receberá fruto: não como o Israel da antiguidade, que não deu fruto.

Cap. 8:13 – Noivo. Ele deseja ouvir a voz dela que caminha nos jardins.

Cap. 8:14 – Noiva. Ela responde e pede ao seu amado que venha sem demora.

Todo o Cântico de Salomão foi dividido em seis partes, iniciando cada uma nos capítulos 1:1, 2:8, 3:6, 5:2, 6:13 e 8:5.

É digno de nota que enquanto o noivo descreve a noiva para ela mesma, a noiva descreve o noivo, não para si mesma, mas para os outros. Isso certamente é apropriado para ela. Ele fala abertamente sobre a preciosidade dela aos seus olhos, e da perfeição que ele contempla nela. Isso suscita a segurança dela, e ela declara a preciosidade dele aos olhos dela. Como dito acima, a interpretação do livro é que ele abrange a união de Cristo e o remanescente judeu em um dia futuro. Mas é o mesmo Cristo que ama a Igreja, e Seu amor exige em troca o mais profundo afeto. Ele Se preocupa com o amor dela e, em Apocalipse 2:4-5, censura a assembleia de Éfeso por ter abandonado seu primeiro amor.

Por uma questão de interesse, pode-se acrescentar que na cópia alexandrina da LXX algumas das divisões acima são feitas, e quem fala é indicado. No Codex Sinaiticus, essas sugestões são muito mais numerosas do que na cópia alexandrina.