Batismo
[geral]
A palavra grega é βάπτισμα, de βαπτίζω, afundar, mergulhar, lavar e assim por diante. A ordenança do Batismo:
- Batismo Judeu. Em Hebreus 6:2 (βαπγισμός – baptismos), os crentes hebreus foram exortados a abandonar “a doutrina dos batismos”; e em Hebreus 9:10 lemos sobre “várias abluções [lavagens]”, mas que é seguido pelas palavras “imposto até o tempo da correção [reforma]”, cujo “tempo” é referido como “vindo Cristo”. Isso mostra que os batismos mencionados faziam parte do ritual judaico, no qual havia muitas lavagens e banhos; mas nenhuma dessas lavagens significava completamente o batismo do Novo Testamento, que como uma ordenança iniciatória coloca os batizados em uma nova posição: o Mar Vermelho (1 Co 10:2) era uma figura disso. Eram as lavagens judaicas que os crentes hebreus foram exortados a abandonar, ou a não lançar novamente como fundamento.
Além disso, muitas vezes foi dito que os judeus recebiam seus prosélitos pelo batismo. Não temos registro disso no Velho Testamento, e Josefo, que detalha os ritos necessários para o recebimento de um prosélito, não faz menção ao batismo. É verdade que Maimônides diz que os prosélitos foram assim recebidos; mas ele não era nascido até 1135 d.C., e era tarde demais para saber o que aconteceu há tanto tempo, quando os escritores contemporâneos silenciam sobre o assunto.
- Batismo de João. Este foi especialmente no Jordão, para onde as multidões saíram, e que é repetidamente referido como o batismo “de arrependimento” (Mc 1:4; Lc 3:3; At 13:24, 19:4). João desafiava as multidões que vinham para serem batizadas a que produzissem “frutos dignos de arrependimento” (Mt 3:8; Lc 3:8). Ele batizou aqueles que vieram “confessando os seus pecados” (Mt 3:6); e ele exortou o povo a crer n’Aquele que viria depois dele, “isto é, em Cristo Jesus” (At 19:4; compare Jo 1:29, 36). Pelo batismo de João, o remanescente piedoso tomou uma posição separada do corpo da nação, na expectativa da vinda do Messias: eles se julgaram e se livraram da condição pecaminosa da nação. O Senhor foi batizado por João, assumindo assim Seu lugar entre os arrependidos em Israel, não como confissão de pecados, mas como cumprimento da justiça, como Ele disse: “Assim nos convém cumprir toda a justiça” (Mt 3:15).
- Batismo Cristão. Vimos que João Batista pregou o batismo de arrependimento. Durante o ministério do Senhor antes da cruz, alguns foram batizados n’Ele como o Messias (Jo 4:1). Após Sua morte e ressurreição, Pedro pregou, não o arrependimento, mas o rejeitado Jesus como exaltado e feito Senhor e Cristo. Quando eles foram compungidos no coração, Pedro disse a eles: “Arrependei-vos...”, mas o batismo era para a remissão de pecados porque a obra que provia completamente a remissão estava consumada: eles foram batizados para a remissão de pecados – de maneira administrativa e governamental (At 2:38).
Romanos 6:3-4 dá o significado do batismo Cristão aos santos que já haviam sido batizados há muito tempo. Ali é tratado da morte de Cristo (Aquele sem pecado) como a morte para o pecado e para o estado em que o homem se encontrava, e tira conclusões disso para nós, visto que Ele está ressuscitado. Eles foram batizados para Sua morte, isto é, eles têm parte nela – É n’Ele ressuscitado que eles estão vivos para Deus (e consequentemente também vivos para Ele ressuscitado – não para a lei), e portanto o pecado não era para reinar mais; mas não há ressurreição com Ele nesses versículos. O batismo é prefigurado pela passagem de Israel pelo Mar Vermelho, não pela travessia do Jordão, embora a ressurreição seja adicionada em Colossenses 2:12, como deixando pecados para trás: “perdoando-vos todas as ofensas” (Cl 2:13). Isso é individual e é a recepção na profissão do Cristianismo: “um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. O significado do batismo vai mais longe em Colossenses do que em Romanos, mas está sempre relacionado com uma condição na Terra, e não com privilégios celestiais. Batismo salva (1 Pe 3:21); nele lavamos nossos pecados (At 22:16); por ele entramos na morte; e em Colossenses 2:12, é adicionado, “nele também ressuscitastes”: portanto, também é individual. A Igreja como tal nunca teve que ser levada à morte, sua própria origem está na ressurreição de Cristo (Cl 1:18); ela é parte do Primogênito na nova criação.
É claro que o batismo, embora em certo aspecto coloca aquele que é batizado em um estado de ressurreição, dando-lhe Cristo como sua vida (Cl 3:4), nunca os tira da Terra; mas os coloca na posição de responsabilidade Cristã aqui, de acordo com a novidade de vida, como se diz, “assim andemos nós também em novidade de vida” (Rm 6:4). Há um aviso em 1 Coríntios 10:1-6. Eles foram batizados, “Mas Deus não Se agradou da maior parte deles”. Uma mera posição sacramental não é suficiente: temos que permanecer “fundados e firmes na fé” (Cl 1:23). Como batizados, somos chamados a andar neste mundo como mortos e ressuscitados, como em um deserto. A expressão da Igreja visível externamente em sua profissão é: “um só Senhor, uma só fé, um só batismo”. No batismo, temos uma boa consciência pela ressurreição (1 Pe 3:21). Por ele lavamos nossos pecados, invocando o nome do Senhor (At 22:16) e somos recebidos a um lugar de responsabilidade do povo de Deus neste mundo.
Com Pedro, o batismo Cristão parece mais conectado com o reino dos céus (compare Mt 16:19; At 2:38, 10:48); com Paulo, estava mais conectado com a casa de Deus quando ele o menciona. Paulo tinha uma nova comissão. Ele não foi encontrado, como Pedro, ministrando no meio de um povo que reconhecidamente tinha promessas, chamando almas para fora dele para o arrependimento, para que recebessem a remissão e fossem separados da geração perversa. Paulo assume o homem como homem (embora reconheça os judeus) e o traz à presença de Deus na luz. Para os gentios isso era, mesmo em testemunho, um estado de ressurreição totalmente novo, não apenas uma boa consciência por meio da ressurreição; e o batismo, que dá uma posição na Terra fundada na ressurreição, não faz parte do testemunho de Paulo, nada mais do que a missão em João 20:21-23; e o próprio Paulo nos diz que não foi enviado para batizar.
A fé vê que quando Deus dá privilégios a um homem na Terra, ele não separa sua família dele, por exemplo (Gn 7:1). Sob o Cristianismo, isso certamente é válido (veja 1 Co 7:14), e vemos que famílias foram batizadas por Paulo.
No final do evangelho segundo Mateus, temos um mandamento relacionado com o batismo e a missão apostólica exclusivamente para os gentios, mas então não há nada de arrependimento ou remissão. É simplesmente fazer discípulos de todas as nações, batizá-los e então ensiná-los (Mt 28:19-20 – ARA). (Esta passagem contempla em seu sentido pleno uma obra a ser feita no final dos tempos pelo remanescente judeu para com os gentios. O batismo Cristão agora é para judeus e gentios igualmente, que por meio dele eles deixariam suas posições como tais e, estando comprometidos com a morte de Cristo, são trazidos à profissão Cristã, deixando essas distinções para trás). A orientação em Lucas 24:47 é o arrependimento e a remissão dos pecados. Em Marcos 16:15-16 a salvação pertencia àquele que cria e era batizado; pois se ele não fosse, ele tinha se recusado a ser um Cristão.
Escritura não dá qualquer ensinamento definido quanto ao modo do batismo, o grande ponto é a que foram batizados os que recebiam a ordenação (comparar At 19:3). A ideia transmitida pela palavra é “lavar”, como com os sacerdotes da antiguidade (Êx 29:4), em vez de “aspergir”, como com os levitas (Nm 8:7).
Quanto à fórmula usada, alguns supõem que, porque lemos em Atos que as pessoas foram batizadas “em nome do Senhor Jesus”, a instrução dada em Mateus 28:19 para batizar “em nome do Pai, e de do Filho e do Espírito Santo”, foi substituída. Mas isso não acontece: o batismo é sempre para alguma pessoa ou coisa. Os discípulos encontrados em Éfeso foram batizados para o batismo de João (At 19:3); os israelitas foram batizados para Moisés; e aqueles batizados nos Atos eram para o nome do Senhor Jesus como Salvador e Senhor; e não há razão para que isso não seja combinado com as palavras encontradas em Mateus, e uma pessoa seja batizada em nome do Senhor Jesus em nome do Pai e do Filho e do Espírito Santo. Em Atos 2:38 a preposição é ἐπί (ἐν nos MSS B, C, D); em Atos 10:48 é ἐν; e em outros lugares é εἰς.
- Batizado pelos Mortos. Isso ocorre em 1 Coríntios 15:29. Alguns sustentam que os santos de Corinto caíram no erro de sustentar que se alguns deles tivessem adormecido sem terem sido batizados, outros poderiam ser batizados por eles, e que Paulo estava condenando isso. Mas na linguagem que ele usa, não há condenação. Se 1 Coríntios 15:20-28 for lido como um parêntese, o versículo 18 explica o 29; e o versículo 19 explica os versículos 30-32. Assim, se não houver ressurreição, os “os que dormiram em Cristo estão perdidos... Doutra maneira, que farão os que se batizam pelos mortos, se absolutamente os mortos não ressuscitam?” (vs. 18, 29). Por que assumir seu lugar nas fileiras e correr perigo a cada hora, como soldados em uma guerra, se os mortos não ressuscitam? Qual foi a vantagem de Paulo ter lutado com as feras em Éfeso se os mortos não ressuscitaram? A alusão em “a toda hora em perigo” e na “luta” é para os que estão em perigo, como soldados na guerra.