Anticristo
[geral]
O nome ἀντἰχριστος – antichristos, significa um opositor de Cristo. É usado apenas por João em sua primeira e segunda epístolas, embora aqueles que se opõem a Cristo sejam mencionados por outros sob nomes diferentes. É importante distinguir entre um anticristo e o anticristo. João diz: “como ouvistes que vem o anticristo, também agora muitos se têm feito anticristos”; ao passo que “o anticristo é aquele que nega o Pai e o Filho” (1 Jo 2:18, 22). Ele é a consumação27 de muitos anticristos. Negar que Jesus Cristo veio em carne é o espírito ou poder do anticristo, mas resulta em um abandono da revelação especial do Cristianismo: “saíram de nós” (1 Jo 2:19, 4:3; 2 Jo 7). Ora, isso aclara o assunto imediatamente de muito que ele tem sido obscurecido. Por exemplo, muitos concluíram que o papado é o anticristo, e não estudaram mais a fundo a questão, enquanto a passagem acima refuta essa conclusão, pois o papado não nega o Pai e o Filho; e, em Apocalipse 17-18, o papado é apontado como bastante distinto de “o falso profeta”, que é outro nome para o anticristo. É totalmente aceito que o papado é anticristão, e um sistema que desonra a Cristo e engana as almas; mas onde Deus fez uma distinção, também devemos fazê-la. Além da questão do papado, houve e há muitos anticristos, que, quaisquer que sejam suas pretensões, são inimigos de Cristo, opositores da verdade e enganadores do homem.
Quanto a pessoa do anticristo, deve-se notar que João faz outra distinção entre este e os muitos. Ele fala dos muitos como já existindo, ao passo que fala dele como aquele que estava por vir; e se nos voltarmos para 2 Tessalonicenses 2:3-12 leremos sobre algo ou Alguém28 que impede que aquele ímpio ou aquele sem lei seja revelado, embora o mistério da iniquidade já estivesse em ação. Ora, não houve mudança de dispensação desde que esta epístola foi escrita, e João a escreveu muito mais tardiamente. Daí aprendemos que a revelação do anticristo é ainda futura, embora sem dúvida o mistério da iniquidade esteja amadurecendo para o aparecimento do anticristo; Aquele que impediu e ainda impede a manifestação do anticristo é, sem dúvida, a presença do Espírito Santo na Terra. Ele deixará a Terra no Arrebatamento dos santos.
Esta passagem em Tessalonicenses nos dá mais detalhes sobre este homem do pecado. Sua vinda é segundo a operação de Satanás, ou seja, ele será um cúmplice de Satanás, e poderá operar sinais e prodígios de mentira com todo o engano da injustiça para os que perecem. Aqueles que recusaram a verdade receberão a mentira desse ímpio. Temos mais detalhes em Apocalipse 13:11-18, onde o poder ou reino anticristão é descrito como uma besta que se ergue da terra, tendo dois chifres como cordeiro, mas fala como dragão. Aqui novamente lemos que ele fará grandes maravilhas, fazendo descer fogo do céu, com outros sinais ou milagres.
Na descrição em Tessalonicenses, ele se opõe a tudo que é chamado Deus ou que é adorado, e se assenta no templo de Deus e se apresenta como Deus. Os judeus o receberão como seu messias, conforme lemos em João 5:43. Na passagem acima no Apocalipse, essa imitação do reino de Cristo é abertamente idólatra. Ele orienta os habitantes da Terra a fazer uma imagem da besta (mencionada em Apocalipse 13:1, o futuro chefe do império romano revivido) à qual imagem ele dá espírito (fôlego – ARA), para que possa falar, e persegue aqueles que não adorarem a imagem. Ele também faz com que todos recebam uma marca na mão ou na testa para que sejam reconhecidos como seus seguidores; e que ninguém mais será capaz de comprar ou vender. Vemos assim que no Apocalipse o poder anticristão também chamado de “falso profeta” trabalhará com o chefe político e com Satanás – uma trindade do mal – não apenas para enganar a humanidade, mas também, em Apocalipse 16:13-16, para reunir por sua influência os reis da Terra para a batalha daquele grande dia do Deus Todo-Poderoso. Os três são lançados no lago de fogo (Ap 19:20, 20:10).
No Velho Testamento, temos ainda outro personagem deste ímpio. Em Daniel 11:36-39, ele é chamado de “rei”. Aqui ele se exalta e fala coisas espantosas (AIBB) contra o Deus dos deuses. Ele não terá respeito “ao Deus de seus pais” (ARF) (indicando que ele será um descendente de Israel, provavelmente da tribo de Dã, conforme Gn 49:17), nem “o desejo de mulheres” (ARA) (Este é o Messias, de Quem toda judia esperava ser a mãe): ele se exalta acima de tudo. Aqui, novamente, ele é um idólatra, honrando um deus que seus pais não conheceram. Em Zacarias 11:15-17 ele é referido como o pastor insensato e inútil, que não se importa com o rebanho, em oposição ao Senhor Jesus, o bom Pastor.
Este homem do pecado “fará conforme a sua vontade” – exatamente o que o homem natural sempre busca fazer. Em contraste com isso, o bendito Senhor foi obediente e não veio para fazer Sua própria vontade. Que Seus santos estejam sempre vigilantes contra os muitos falsos profetas no mundo (1 Jo 4:1), sejam leais ao seu Senhor ausente, contemplem Sua beleza no santuário e reproduzam-no mais aqui em seus vasos de barro.
[27]
N. do T.: Realização completa ou perfeita de algo pensado, imaginado, aspirado (Cf. Aulete Digital). [28]
N. do T.: Esta restrição está sendo exercida hoje na Terra por meio de dois detentores: “aquilo que o detém” (v. 6 – TB) e “Aquele que agora o detém” (v. 7 – TB). J. N. Darby disse: “‘Aquilo que o detém”, portanto, é o poder de Deus agindo em governo aqui abaixo, conforme autorizado por Ele. (Synopsis of the Books of the Bible, 2 Tessalonicenses, e sobre “Aquele que agora o detém”, E. Dennett disse: “O que Paulo ensina em 2 Tessalonicenses 2 é que o que restringe a manifestação desse monstro de iniquidade no presente momento é a presença do Espírito Santo na Terra, na Igreja” (Christ as a Morning Star and the Sun of Righteousness, pág. 46).