Zacarias, Profecia de
[geral]
Nada pessoal é revelado a respeito do profeta, exceto que ele era filho de Berequias, filho do profeta Ido. As datas mencionadas são o 8º e o 11º mês do 2º ano e o 9º mês do 4º ano de Dario, correspondendo a 519 e 517 a.C. (Zc 1:1, 7, 7:1). A profecia de Ageu foi no 2º ano do mesmo rei persa, então os dois profetas eram contemporâneos e, de acordo com Esdras 5:1 e 6:14, ambos despertaram e encorajaram os judeus a continuar com a construção do templo. A profecia de Zacarias está muito ocupada com os grandes reinos gentios sob os quais os judeus foram colocados: também há muito a respeito de Jerusalém, e alcança o tempo do Messias e Sua rejeição, e até os últimos dias quando Israel e Judá serão abençoados na terra.
Zacarias 1. Versículos 1-6. A introdução convida o povo a se voltar para o Senhor: não para ser como seus pais que se recusaram a ouvir as advertências, mas que, quando os castigos de Deus caíram sobre eles, foram forçados a reconhecer a verdade das palavras do profeta. O ponto principal do capítulo é que o Senhor havia retornado a Jerusalém com misericórdia, e a ordem providencial de Deus para as nações favoreceria a construção da cidade.
A primeira visão está em Zacarias 1:7-17. Um homem, o anjo do Senhor, em um cavalo vermelho (o cavalo é um símbolo da energia do governo providencial de Deus na Terra) está na sombra entre as murtas, e havia outros cavalos, vermelhos, malhados e brancos, como símbolos da atuação de Deus no governo da Terra (compare Zc 6:5). “As autoridades que há foram ordenadas por Deus” e foram usadas por Ele. Se o cavalo “vermelho” significa a Pérsia (tendo a mesma cor do cavalo do anjo, possivelmente porque a Pérsia estava naquele tempo governando e favorecendo o povo de Deus), sem dúvida o “branco” e o “malhado” (ARF) apontam para as duas nações que teriam sucesso – a grega e a romana. Todos estavam sob o controle de Deus. Babilônia não é vista aqui: havia recebido seu castigo.
Deus estava irado com as nações vizinhas que estavam em descanso quando Israel estava sendo punido. Os 70 anos de indignação (aqui não é o cativeiro dos 70 anos, embora ambos os períodos estejam parcialmente sincronizados) tinham então seguido seu curso, e um remanescente dos judeus tinha sido restaurado em graça, como visto no livro de Esdras; mas foram apenas algumas gotas da chuva de bênçãos que cairia sobre eles.
Zacarias 1:18-21 refere-se aos quatro reinos como chifres, tão completamente profetizados em Daniel – o babilônico, o medo-persa, o grego e o romano. Essas nações, usadas como instrumentos de disciplina sobre o povo de Deus, deveriam ser subjugadas no tempo devido pelos “carpinteiros” e “ferreiros” de Deus. Observe que Judá e Israel são mencionados em Zacarias 1:19.
Zacarias 2 diz respeito à cidade e à libertação do povo eleito de Deus, chegando ao futuro. Jerusalém será medida com o fim de ser ampliada e habitada como as aldeias sem muros – sem limites: o Senhor será um muro de fogo ao redor dela, e será a glória em seu meio (compare Is 49:19-20). “Depois da glória” do Senhor ser manifestada na terra (Zc 2:8), Ele os enviará às nações e despojará os que despojaram Israel, a quem considera a menina dos Seus olhos (compare Dt 32:10). O Senhor habitará no meio de Seu povo, e muitas nações se unirão ao Senhor: Jerusalém será Seu centro terrenal. Toda a carne deve ficar em silêncio diante do Senhor, Israel deveria saber que, embora Ele providencialmente ordenasse as coisas na Terra, ainda assim, o profeta – uma figura do Messias – era o enviado do Senhor. É perfeitamente claro que nada em correspondência a isso aconteceu desde o cativeiro.
Zacarias 3. Este capítulo apresenta o santuário e a graça ativa: para que Jerusalém seja assim abençoada, o povo deve ser purificado. Eles são representados em Josué, o sumo sacerdote, diante do Anjo do Senhor (JND), Satanás em pé para resistir a ele. Deus assume a defesa de Seu povo: Satanás é repreendido, as vestes sujas são tiradas, a iniquidade é removida; Josué está vestido com vestes festivas e uma tiara ou diadema real é colocado em sua cabeça (compare Is 62:3). Ele então está em uma posição de responsabilidade: se for fiel, julgará a casa do Senhor e terá um lugar na Sua presença. O remanescente restaurado é abençoado, mas deixado sob a responsabilidade até o tempo em que Cristo cumprirá os conselhos de Deus nos últimos dias. O resto do capítulo se refere àqueles dias.
Em Zacarias 3:8, Josué é figura de Cristo como o renovo (compare Is 11:1).
Zacarias 3:9. Uma pedra é colocada diante dele, também figura de Cristo com toda a inteligência divina para o governo (compare Zc 4:10 e Ap 5:6). A iniquidade da terra será tirada em um dia, e cada um repousará sob sua própria videira e sua própria figueira. A paz reinará.
Zacarias 4. Versículos 1-3 apresenta simbolicamente a luz divina e a ordem do reino futuro.
Zacarias 4:6-10 dá o estado então do remanescente que retornou, o Espírito com eles, e o governo providencial (ainda não direto) de Deus por eles. Assim, o profeta deveria assegurar a Zorobabel que ele seria capaz de terminar a casa que havia sido iniciada (Zc 4:7): isso também era figura do futuro (compare Zc 6:12).
Zacarias 4:11-14. A realeza e o sacerdócio de Cristo manterão, pelo poder do Espírito (azeite dourado – ARA), uma exibição perfeita da luz e glória de Deus em conexão com Israel. Em princípio, isso era visto no remanescente que voltou da Babilônia. Será também no remanescente dos últimos dias (compare Ap 11:4).
Zacarias 5. Versículos 1-4. Um rolo voador traz juízo (de acordo com a santidade do santuário de Deus, 20 x 10 côvados) sobre a “terra” (ao invés da “Terra”), e nas casas daqueles que pecam contra Deus (jurando falsamente), e contra seus vizinhos (roubando), ou seja, a massa dos judeus.
Zacarias 5:5-11. Seu estado perverso e corrupto é representado por uma mulher assentada em um efa (uma das medidas secas) sobre o qual um peso de chumbo, como se para contê-la, é lançado. Posteriormente, surgem duas mulheres (emblemáticas da cobiça comercial) (sem dúvida figuras das formas gêmeas do desenvolvimento do mal) e o carregam para a terra de Sinar, onde foi construída Babilônia, a mãe da idolatria, para construir uma casa ao efa. Sem dúvida, aponta para a apostasia dos judeus nos últimos dias: seu caráter é babilônico (Ap 18:4-5).
Zacarias 6. Versículos 1-8 apresenta os espíritos administrativos do governo providencial de Deus conectado com os quatro impérios gentios como cavalos: o vermelho (Babilônia), o preto (medos e persas), o branco (grego) e o malhado e baio (romano), este último provavelmente tendo dois cavalos por causa do duplo caráter de seu governo, ruínas dos quais existem em várias formas até que sejam reavivadas antes que o Senhor venha reinar. (Alguns traduzem “forte” em vez de “baio” (Zc 6:3, 7). A palavra hebraica não é a mesma que traduzida como “baio” na margem de Zacarias 1:8). “Estes são os quatro espíritos do céu, saindo donde estavam perante o Senhor de toda a Terra” (Zc 6:5 – ARF), porque durante os tempos dos gentios essas nações são os instrumentos do poder governante providencial de Deus na Terra. Os impérios continuam de alguma forma, apesar de seus fracassos, até que Deus por meio de Cristo prevaleça, não mais providencialmente, mas em governo direto. Em Daniel 2:45 é dito que a Pedra esmiuçará “o ferro, o cobre, o barro, a prata e o ouro”. Mais detalhes sobre esses pró]acarias 6:6 provavelmente se refere à batalha de Ácio (31 a.C., a data do estabelecimento do império romano), e Zacarias 6:8 à queda de Babilônia.
Zacarias 6:9-15. Cristo como o Renovo é novamente apresentado. Ele construirá o templo do Senhor, Se assentará em Seu trono como Governante e Sacerdote. Ele reinará em Seu caráter Melquisedeque – Rei e Sacerdote. Aparentemente, os três homens mencionados em Zacarias 6:10 trouxeram ouro e prata em seu retorno do cativeiro, dos quais coroas foram feitas para Josué; e essas coroas foram penduradas “como um memorial no templo do Senhor”. Eles deveriam saber que o profeta havia sido enviado a eles, mas tudo dependia de sua obediência (Zc 1:2-6).
Zacarias 7. Deste capítulo em diante, a profecia tem uma influência distinta sobre a consciência do povo, o Messias é apresentado e as consequências de Sua rejeição. O povo é desafiado a saber se eles foram sinceros em seus jejuns durante os 70 anos: o jejum “no quinto mês” era em memória da destruição de Jerusalém (2 Rs 25:8); e no “sétimo mês” pelo homicídio de Gedalias (Jr 41:1-2). Deus os espalhou por seus pecados e por causa da rejeição dos antigos profetas.
Zacarias 8. Deus, entretanto, retorna a Sião em graça e em tal bênção que só será plenamente percebida no Milênio. Israel e Judá estão ambos envolvidos na bênção (Zc 8:13). Seus dias de jejum seriam transformados em festas: o quarto mês sem dúvida se refere ao tempo em que Jerusalém foi tomada, e o décimo mês quando o cerco começou (compare Jr 52:4, 6 e Zc 7:5).
Zacarias 9-10. Aqui o “peso” é anunciado, a vingança de Deus que virá sobre as nações para que Israel tenha possessão da Síria.
Zacarias 9:3-8 teve um cumprimento parcial pela instrumentalidade de Alexandre, o grande. Sião é chamada a se regozijar, pois o Messias, seu Rei, vem montado em um asninho. Esta passagem é citada nos Evangelhos, mas só é citada lá na medida em que era verdade naquela época, omitindo os julgamentos que devem ser cumpridos quando Cristo voltar, e que resultará em grande prosperidade e bênção: a colheita e a vindima os fará florescer. Isso continua em Zacarias 10, onde novamente todo Judá e Israel estão incluídos na bênção. Os obstáculos serão removidos e o orgulho de seus inimigos derrubado. Eles serão fortes no Senhor e andarão em Seu nome.
Zacarias 11 trata da rejeição do Messias; seu início é um grande contraste com o final de Zacarias 10. Aqui o povo está sob o domínio dos gentios. Todo o rebanho (nação) é entregue ao matadouro, e o Senhor assume sua causa, pois seus próprios pastores (escribas, anciãos, governantes, sacerdotes) não tiveram pena deles. Ele levanta o verdadeiro Pastor, que alimenta o remanescente (os pobres do rebanho).
As duas varas representam Sua autoridade, reunindo todas as nações a Ele (Gn 49:10) e unindo Judá e Israel (Ez 37:15-28). A vara Suavidade (ou Beleza) é cortada em pedaços, e Ele renuncia a Sua aliança com as nações – os povos em Zacarias 11:10 – (compare Jo 12:20-24). É em Israel que Ele tomará possessão. Os pastores infiéis em Israel são eliminados (compare Mt 22:15-46), e os pobres do rebanho têm inteligência quanto ao que Deus está fazendo. O Messias é avaliado em trinta moedas de prata, conforme relatado nos evangelhos.
A outra vara, Laços, foi então quebrada, e a reunião de Judá e Israel foi adiada por algum tempo. Tendo o verdadeiro Pastor sido recusado, o Senhor fala do falso pastor, o anticristo(Zc 11:15-17), passando assim despercebido por todo o presente período, o que torna evidente que a Igreja não é aludida em Zacarias (compare Jo 5:43).
Zacarias 12. Após a rejeição de Cristo e a aceitação do anticristo, este capítulo apresenta os eventos relativos a Jerusalém nos últimos dias. As nações que molestam o povo terrenal de Deus encontrarão em Jerusalém um peso que os esmagará. Judá verá e reconhecerá que Aquele que eles crucificaram era o seu verdadeiro Messias, e grande tristeza ferirá seus corações (compare Zc 12:11 com 2 Cr 35:22-25). Cada família chorará à parte e suas esposas à parte: o rei (Davi), o profeta (Natã) e o sacerdote (Levi), ao qual Simei está associado. Talvez este deva ser Simeão como na LXX, a versão Siríaca e as versões Árabes, como representando o mais cruel (compare Gn 49:7); ou possivelmente Simei, o inimigo de Davi, como representando o mais vil do povo, pode ser o mencionado.
Zacarias 13. Versículos 1-4. Uma fonte é aberta e tudo é purificado. Todos os ídolos e falsos profetas são banidos.
Zacarias 13:5. De Cristo era o lugar humilde de um lavrador, de um escravo do homem, e de um profeta sem qualquer credencial humana.
Zacarias 13:6. Sua rejeição pelos “Seus” é evidenciada pelas feridas em Suas mãos, que Ele recebeu quando estava entre Seus amigos.
Zacarias 13:7. O Senhor O reconhece como Seu Companheiro, mas Sua espada O feriu, e as ovelhas (a nação) foram dispersas, enquanto o remanescente foi abençoado (Mt 26:31).
Zacarias 13:8-9. Nos últimos dias Judá será levado a juízo, e uma terça parte, após ser refinada no fogo, será considerada povo de Deus, e eles reconhecerão o Senhor como seu Deus. Israel, como não tendo sido diretamente culpado da morte de seu Messias, será tratado de forma diferente (compare Ez 20:34-38).
Zacarias 14 anuncia o dia do Senhor. Todas as nações serão reunidas por Deus contra Jerusalém, a cidade será tomada, as casas saqueadas e metade dos habitantes irá para o cativeiro. Então o Senhor sairá e lutará contra essas nações. Os pés do Senhor Jesus estarão no Monte das Oliveiras, de onde Ele ascendeu, e o monte se dividirá em dois, causando grande temor.
A última parte de Zacarias 14:5 começa uma sentença, o Senhor virá com todos os Seus santos.
Zacarias 14:6 é obscuro, e os MSS diferem: pode significar: “Não haverá luz; o brilho (ou luminárias) será obscurecido”. O próximo versículo mostra que não será um dia comum, mas a luz será no entardecer.
Águas vivas sairão de Jerusalém, parte indo para o mar oriental, e parte para o mar ocidental; e haverá mudanças físicas na terra. Os inimigos serão consumidos e Judá dividirá o despojo. Aqueles das nações que sobreviverem irão a Jerusalém para adorar o Rei, o Senhor dos Exércitos, ou, se não adorarem dessa forma, serão punidos. “Santidade ao Senhor” estará nas campainhas dos cavalos, e todos em Jerusalém serão santificados. Não haverá nenhum “cananeu” ou comerciante na casa de Deus, como havia quando o Senhor estava na Terra.
Toda a profecia diz respeito ao povo terrenal de Deus e está repleta de detalhes a respeito de sua punição; sua bênção; seu Messias, e sua rejeição a Ele; também a recepção futura d’Ele e Sua glória no meio deles. Será notado que o Senhor, e seu Messias (de qualquer forma que seja prefigurado), são frequentemente mencionados como um e o mesmo.