Versão Autorizada (King James)
[geral]
Na ascensão de James (1603 d.C.), houve mais clamores por uma nova tradução da Bíblia, mas a sugestão foi fortemente desacreditada por outros. Foi discutido na Conferência de Hampton Court em 1604, mas nada foi definitivamente resolvido.
O rei, porém, retomou o assunto: seria para a glória de seu reinado. Ele passou a fazer os arranjos necessários, 54 estudiosos foram escolhidos, embora apenas 47 nomes apareçam nas listas de Fuller; alguns estavam ligados à “igreja” e outros tomados dos puritanos. O rei exortou o clero a contribuir com 1.000 marcos, e ele deveria ser informado do que cada homem entregava, dando a entender que, quando surgisse alguma vaga, ele pensaria nos tradutores para nomeação. Os estabelecimentos deviam oferecer alimentação e hospedagem gratuitas para os que viessem de outras localidades.
O rei elaborou uma lista de instruções, entre as quais estavam:
- A Bíblia dos Bispos deveria ser seguida, sendo tão pouco alterada quanto o original permitiria.
- As traduções de Tyndale, Coverdale, Matthew, Whitchurch (isto é, de Cranmer) e de Genebra deveriam serem usadas quando concordassem melhor com o texto do que a Bíblia dos bispos.
- Os antigos nomes eclesiásticos deveriam ser mantidos, como igreja, bispo, etc.
- Quando qualquer palavra tivesse vários significados, deveriam ser mantidos os que tinham sido mais comumente usados pelos pais mais eminentes, se adequados à propriedade do lugar e à analogia da fé.
- Nenhuma nota marginal deveria ser adicionada, apenas se fosse para explicar palavras hebraicas e gregas.
- Referências marginais deveriam ser adicionadas. (Eram poucos na edição de 1611, a maioria das edições modernas foram adicionadas posteriormente.)
Então seguiram-se as instruções quanto à divisão do grupo em comitês; cada pessoa deveria trazer suas próprias alterações, e estas deveriam ser consideradas e resolvidas em cada comissão, e então transmitidas às outras comissões. O trabalho de tradução durou três anos, e então seis foram escolhidos do grupo para supervisionar sua publicação. A Companhia de Papelarias deu, mensalmente, trinta libras a cada um para as suas despesas.
A Bíblia foi publicada em 1611 e muitas vezes reimpressa; aos poucos, erros surgiram, alguns sendo muito sérios. Uma revisão do todo foi realizada no ano de 1683 pelo Dr. Scattergood; e foi novamente examinada em 1769 pelo Dr. Blayney, que revisou a pontuação, corrigiu o itálico, acrescentou as traduções dos nomes próprios, alterou os resumos dos capítulos, acrescentou muito às referências marginais e consertou parte da cronologia.
A Dedicação, com sua lisonja primeiro ao Rei James e depois à Rainha Elizabeth, é comumente inserida em todas as edições; mas o Prefácio raramente é fornecido. É uma espécie de desculpa pelo trabalho que fizeram: não era para fazer uma nova tradução, nem ainda para fazer de uma má uma boa: “seu empenho era fazer de uma boa, uma melhor, ou de muitas boas fazer uma principalmente boa”. Eles se esforçaram para tomar um meio-termo entre os puritanos que abandonaram “as velhas palavras eclesiásticas” e a obscuridade dos papistas em “reter palavras estrangeiras de propósito para obscurecer o sentido”. Eles justificam seu plano de traduzir a mesma palavra por palavras diferentes com o legítimo fundamento de que a mesma palavra nem sempre pode ser traduzida pela mesma palavra em inglês; mas variaram a tradução onde o sentido era o mesmo, sob o argumento de que teria promovido algumas palavras para terem “um lugar na Bíblia sempre” e banido para sempre outras de qualidade semelhante: curiosamente, adicionar “gentileza nas palavras sempre foi considerado o próximo passo para trivialidades”. João 5 dá um exemplo de tais variações. A palavra κρίσις – krísis é traduzida como “julgamento” nos versículos 22, 27, 30; “condenação” no versículo 24; e “danação” no versículo 29: sendo que “julgamento” se encaixa bem em todos esses versículos.
A tradução foi altamente elogiada por muitos como próxima da perfeição, mas foi igualmente criticada e condenada por alguns. Hugh Broughton, descrito como o maior estudioso hebraico da época, mas que não havia sido convidado para ajudar na obra, declarou que “preferia ser despedaçado por cavalos selvagens do que impor tal versão às pobres igrejas da Inglaterra!” Este é um veredicto que foi anulado pelos elogios que foram concedidos ao trabalhado por milhares de eruditos desde então, que, sem dizer que a tradução fosse perfeita, ainda falaram nos mais elevados termos de sua excelência como um todo, e esta opinião é evidenciada no fato de que já há 400 anos se mantém firme e tem sido o meio de levar o evangelho e a verdade revelada de Deus a qualquer lugar do mundo onde a língua inglesa é falada, para a salvação dos pecadores perdidos e para o conforto e edificação dos crentes.
E isso não é tudo: é um fato notável que em meio a todas as divisões da Cristandade, com suas várias discussões, todos se contentaram em apelar para a mesma versão autorizada em inglês.
A versão em 1611 foi aclamada com tanta alegria que cinco edições foram impressas nos três anos seguintes. A versão de Genebra não foi, no entanto, eclipsada por ela: entre 1611 e 1617, houve até treze reimpressões.
Embora se diga que a Versão Autorizada foi traduzida do hebraico e do grego, não há nenhuma indicação nas instruções dadas aos tradutores nem em seu prefácio quanto ao texto grego usado. Sendo uma revisão em vez de uma tradução, eles podem ter simplesmente seguido a Bíblia dos Bispos a esse respeito, mas não o fizeram, e é incerto o texto que seguiram.
É comumente entendido que a Versão Autorizada corresponde ao “texto grego comum”, conforme dado, por exemplo, na versão de Stephen de 1550. O texto de Beza veio depois do de Estevão, e os de Elzevir não foram publicados. Mas a Versão Autorizada em cerca de 28 lugares não segue Stephen nem Beza, de modo que parece que eles não seguiram nenhuma regra estrita quanto ao texto que adotaram. As diferenças não são de grande importância e algumas delas foram alteradas em reimpressões modernas.
Para mostrar o custo das primeiras edições do Novo Testamento inglês, pode-se mencionar que em 1429 Nicholas Belward foi acusado de ter em sua posse um Novo Testamento que comprou em Londres por quatro marcos e quarenta pence (£ 2 16s. 8d.) Uma soma de valor igual a mais de R$ 290,00 nos tempos modernos.