Apêndice 20. Pedir, Rogar.

Tanto αἰτέωaiteó (g154) como ἐρωτάωerótaó (g2065) são traduzidas “pedir”, e corretamente em diversas passagens; mas algumas vezes perdem muito de sua força pela tradução não preservando uma distinção bem clara entre elas. aiteó expressa súplica de um inferior a um superior – de um mendigo buscando esmolas (At 3:2). (At 3:3, onde erótaó é usado, talvez indicaria uma mudança no tom da acostumada forma de pedir para uma exigência mais decisiva); de uma criança pedindo a seus pais (Mt 7:9); e os discípulos a Deus, o Pai (1 Jo 3:22; Tg 1:5-6). João usa a palavra aiteó para “oração”, e nunca a palavra comum προσεύχομαιproseuchomai (g4336), nem προσευχήproseuché (g4335), “oração”, salvo em Ap 5:8, 8:3-4.

erótaó, por outro lado, traz consigo uma certa igualdade ou familiaridade entre aqueles com quem ela é usada, de um rei para com outro rei (Lc 14:32). O Senhor usa esta palavra em Seu próprio pedido ao Pai (Jo 14:16, 16:26, 17:9, 15, 20 – nunca aiteó. Marta revela sua inconsciência da dignidade de Sua Pessoa ao aplicar aiteó a Ele (Jo 11:22), cuja palavra Ele nunca usa para Si mesmo.

A passagem, na versão King James, que mais sofreu com a eliminação da distinção entre essas palavras é Jo 16:23182, que é vista ao substituir a oração ao Pai em nome de Cristo pela oração direta a Cristo. Considerando que o “pedir” (erótaó) da primeira parte do versículo refere-se a Jo 16:19, “Percebendo Jesus que desejavam interrogá-Lo (erótaó) Aqui, a palavra é usada em seu sentido clássico comum de “pergunta”, e de forma alguma como “oração”. O Senhor está conduzindo o coração de Seus discípulos, desde a hora de dores que estava diante deles por causa de Sua morte, até o amanhecer de um novo e interminável dia em Sua ressurreição, quando eles não teriam mais perguntas – todas as dificuldades seriam resolvidas. Na verdade, houve duas dificuldades diante deles no que o Senhor havia dito em Jo 16:17. De Jo 16:18 até à primeira parte de Jo 16:23 completa a instrução do Senhor quanto à primeira dificuldade. Na última parte de Jo 16:23, Ele trata a segunda dificuldade deles, “Porquanto vou para o Pai” (v. 17), e revela esta primeira das consequências de Sua ida, que agora eles seriam capazes de “pedir” (aiteó) ao Pai em Seu nome – vir perante o Pai no valor de Seu nome como eles nunca tinham feito até então, como deixados para representá-Lo no lugar de Sua rejeição.

Ajuda também pode ser encontrada em 1 João 5:16, onde há confessadamente mais dificuldade em preservar a distinção do uso que o Espírito Santo faz das duas palavras. No início do versículo aiteó é usado como nos versículos anteriores (1 Jo 5:14-15) para “oração”. Ver um irmão pecar deve levar aqueles que conhecem a santidade de Deus a orar para que ele não seja cortado desta vida sob o Seu governo: veja 1 Co 11:30-32. Mas há casos em que o coração do intercessor é controlado, e o apóstolo não enfraqueceria o senso da gravidade do pecado em tal caso. “Há pecado para morte”: esta pode ser a razão do controle (Pedro não poderia ter orado pela vida de Ananias e Safira). Mas ele acrescenta: “por esse não digo que ore”. “Ore” é aqui erótaó, com a mesma diferença de aiteó que vimos, ou seja, “dúvida sobre isso”. Se não houvesse nenhuma dúvida, o apóstolo não a teria levantado: “Toda injustiça é pecado; e há pecado que não é para a morte”.



[182]

N. do T.: Na versão King James, João 16:23 traz: “E, naquele dia, vós nada Me pedireis. Na verdade, na verdade vos digo que tudo quanto pedirdes a Meu Pai, em Meu nome, Ele vo-lo há de dar”.